Ao enfocar toda uma linha histórica de construção do objeto de estudo para a Geografia é necessário se ressaltar aqui a construção miltoniana para espaço geográfico. Milton Santos representa a corrente da Geografia Crítica no Brasil que nasce no final das décadas de 70, em “Por uma Geografia Nova”, lançada em 1978, SANTOS, considera o espaço como uma instância da sociedade construída e reconstruída através de um processo dialético. Os debates epistemológicos por muito tempo correram em torno da Geografia como ciência, entretanto o seu objeto ficou esquecido. SANTOS, 2001, trouxe a importância para a discussão em torno do objeto e método da Geografia como primordial construindo um longo projeto de um sistema de idéias sobre o espaço geográfico. “Trata-se de formular um sistema de conceitos (jamais um só conceito!) que dê conta de todo e das partes em sua interação” (SANTOS, 2001, p. 77).
SANTOS, 2001, considera o espaço primeiramente como um “conjunto de fixos e fluxos”, os elementos fixos como estradas, pontes, construções, barragens e etc, os fluxos são os movimentos que são condicionados pelas ações. Há uma interação entre os fixos e os fluxos construindo e reconstruindo o espaço, os fixos que produzem fluxos, e este que levam a reprodução de fixos e vice-versa. Ao aprofundar a discussão SANTOS, 2001, defini o espaço como “um conjunto indissociável, solidário e também contraditório de um sistema de objetos e sistema de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. No decorrer da evolução e da apropriação do espaço o homem cada fez mais substitui elementos naturais por objetos artificiais que funcionam como uma engrenagem. No sistema de idéias feito por SANTOS, 2001, os objetos e ações são partes indissociáveis que formam o espaço, onde ambos interagem entre si:
De um lado os sistema de objetos condicionam a forma como se dão as ações e, de outro lado , o sistemas de ações leva a criação de objetos novos ou se realiza sobre os objetos pré-existentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma (SANTOS, 2001, p 63).
O espaço é o conjunto desta interação entre ações e objetos como processo ou resultado levando a uma multiplicidade de situações e processos. Na sistematização de um sistema de idéias que SANTOS, 2001, faz sobre o espaço é elaborado um conjunto de conceitos sobre o espaço como um “conjunto indissociável de sistema de objetos e sistema de ações”. Assim o espaço pode ser explicado pelas: categorias analíticas internas, recortes espaciais e pelos processos básicos que são externos ao espaço. As categorias analíticas internas são; paisagem, configuração territorial, divisão territorial do trabalho, o espaço produzido ou produtivo, as rugosidades e as formas conteúdo. Entre os recortes espaciais estão: região, lugar, redes e escala. Externos ao espaço são destacados os processos básicos: a técnica, a ação, os objetos, a norma e os eventos a universalidade e a particularidade, a totalidade e totalização, a temporalização e a temporalidade, a idealização e a objetivação, os símbolos e a ideologia.
Cabe aqui algumas definições de alguns conceitos do sistema de idéias de SANTOS, 2001, comecemos pela “configuração territorial”. Para SANTOS, 2001 a “configuração territorial” é o conjunto de sistemas naturais em uma área, Milton Santos não considera como espaço, mas sendo apenas a materialidade, no espaço esta presente esta materialidade juntamente com a vida que o anima. Com o desenvolvimento histórico do homem o conjunto de complexos naturais vai sendo moldado pelo homem criando as “próteses” que SANTOS, 2001, considera como uma extensão do corpo do homem que estende ao espaço. Paisagem é a porção da configuração territorial que é possível abarcar com a visão, ou seja, é o conjunto de elementos naturais, porém em uma área mais delimitada. A paisagem é o conjunto de elementos naturais e humanizados, retirando a presença da sociedade, porém a sua dinâmica se dá mais pela ação da sociedade por acumulações e substituições por ação de diferentes sociedades. Há uma indivisibilidade dos objetos das ações pelo fato de haver um constante movimento produção e reprodução do espaço levando para uma constante sucessão das “formas-conteúdo”, ou seja, o espaço tem objetos com formas, mas também conteúdo que leva a interagir com a estas formas estas com o conteúdo. Com o processo de “totalidade” e possível compreender o movimento das “formas-conteúdo”, sendo que a “totalidade” é processo constante, havendo neste a “totalização” que ao mesmo tempo um processo de unificação, de fragmentação e individualização. Assim os lugares se criam e se recriam novamente onde o condicionante de todo esse processo é a divisão social do trabalho, levando aos Lugares novos “conteúdos” e criando novas “formas”, lavando a constante metamorfose integrando os “objetos” e as “ações” (SANTOS, 2001, p. 25).
Segundo SANTOS, 2001, os vetores da transformação do espaço, transformação como já mencionada movida pelo processo de produção, são os “eventos”, este que são portadores de um acontecer que dialoga com as “rugosidades” já presentes nos lugares de chegada dos eventos onde a uma união entre tempo e espaço que pode ser retratada com a relação “eventos/rugosidades”. Com as condições atuais que possibilita uma rápida metamorfose do espaço é necessário se levar em conta o papel das técnicas que estabelecem estas transformações no espaço. O espaço globalizado é concebido como o meio-técnico cientifico informacional o qual passou por um longo processo até sua totalidade e que ainda caminha por uma totalização permeada pelas categorias aqui destacadas que são partes de um todo movido por um processo dialético.
Milton Santos
BIBLIOGRAFIA
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. – 4ª ed. 4ª reimpressão . – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.
DÁ-LHE MILTON SANTOS. QUEM Lê MILTON EM 2013 DÁ JOINHA :D
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