29 maio 2010

DIA DO GEÓGRAFO

29 de Maio dia do Geógrafo
A todos os Geógrafos:
Parabéns!!!

 
O Geógrafo de Vermeer

O geógrafo olha suspeitoso pela janela. A luz derrama-se através dessa janela que o relaciona, inevitavelmente, com o mundo exterior. Por precaução, a janela está fechada, mas a luz insinua-se na sala onde o geógrafo se entrincheirou. A luz parece incendiar o mapa que o geógrafo desdobrou sobre a mesa. O geógrafo, apreensivo, segura com a mão esquerda uma borda do mapa, enquanto a mão direita se suspende numa medição de escalas. Medições… de que realidades e distâncias? Toda a concentração do geógrafo vai para esse misterioso mundo exterior que o surpreende, do outro lado da janela. Rumorosamente, o mundo existe lá fora e o geógrafo incarna uma personagem patética, o próprio ridículo que nem o delicado azul do seu roupão consegue atenuar. O lastro do absurdo é o azul, medita o geógrafo ou alguém por ele. Johannes Vermeer, o pintor do quadro, habituou-se a distribuir o azul com parcimónia, como um recurso raro. O azul ou, por outras palavras, o absurdo já não mora nos céus de Delft mas contagiou a sala do geógrafo, a manta que cerceia o seu mapa e cobre a mesa. O azul pesa também no roupão do geógrafo, avoluma-se na aba do braço direito e obriga o geógrafo a uma postura curvada perante o mundo, a uma humildade consentida e iluminada pela luz matinal. O mapa incendeia-se com a luz, mas o geógrafo olha nostalgicamente para o exterior, para esse real intenso que a ciência nunca conseguiu captar. O roupão é azul, ou não fosse Vermeer o seu pintor, mas não o céu. Lá fora a claridade acentua a cegueira das coisas e dos seres animados. O geógrafo, por delicadeza do pintor, pousará de roupão para e eternidade. Inerte e mudo como só um cientista ou um monarca sabem ser.
Adriano Rosa

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